13/09/2013

Édipo ressuscitado



"Tudo começou com uma simples 
canção de despedida. Provavelmente 
para uma garota, mas percebi que
poderia ser um adeus a uma infância."
        
(Jim Morrison sobre "The End")






Hoje me peguei ouvindo “The End” do The Doors e me vieram à mente algumas histórias controversas e curiosas sobre essa canção.

Ao que tudo indica, essa foi a primeira canção de rock a ousar ultrapassar o limite dos 10 minutos. Isso mesmo antes do Pink Floyd, Yes, Genesis ou do Emerson, Lake and Palmer.

O curioso da composição da canção é que ela foi construída ao longo de inúmeras apresentações da banda durante o ano de 1966 no “Whisky a Go Go” (um clube noturno de Los Angeles), onde os Doors costumavam tocar.

Um evento foi crucial para definir a estrutura da canção. Em uma determinada noite daquele ano de 1966, o clima ficou pesado para banda ao tocar a canção no Whisky. Isso porque o Jim Morrison começou a introduzir na sua performance (no momento que antecedia o clímax sonoro da canção) um tipo de recital audacioso, adaptando episódios do Édipo Rei de Sófocles.

Entoado com toda a energia e ferocidade que o Jim conseguia impor com a sua voz, o trecho “Pai?/ Sim, filho?/ Eu quero matar-te/ Mãe? Eu quero… FODER-TE!" provocou escândalo e desconforto em algumas pessoas que frequentavam o Whisky naquela noite. Uma das pessoas que ficaram estarrecidas com o recital edipiano do Morrison era o dono do clube. Não deu outra: a banda foi expulsa, praticamente enxotada do local.

A banda passou a ser sumariamente banida do circuito de vários bares noturnos (inclusive do Whisky) por causa da performance do Morrison no meio da canção. Uma encenação que na época não era, provavelmente, muito bem entendida pelos donos de bares e frequentadores da noite de Los Angeles.

Mas Jac Hozlman havia visto apresentações da banda e a convidou  para assinar um contrato com então gravadora Elektra Records.

A canção foi gravada no primeiro álbum (embora com o “Foder-te” bastante abafado por gritos) e, inesperadamente, chegou ao primeiro lugar no México.

Daí para frente, a trajetória da banda foi a loucura (elevada à máxima potência) que muita gente já conhece...


P.S. Uma história de bastidor peculiar (nunca confirmada) conta que essa canção foi a última que o Morrison ouviu antes de morrer. Na verdade, o Jim, um dia antes da sua morte, teria iniciado um ritual que consistia em ouvir todos os álbuns do The Doors numa ordem cronológica inversa. Ou seja, ele teria começado no “L.A. Woman” e terminado no “The Doors”, de 1967, cuja última canção é “The End”.

Ouça a canção: https://www.youtube.com/watch?v=aGmAmJFUvzM

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