28/08/2013

Um faroeste sobre o Terceiro Mundo
















Acho o "Psicoacústica" do IRA! um disco fundamental para qualquer apreciador de rock. É daqueles álbuns visionários que abrem fendas e antecipam o que está por vir. Um puta disco de vanguarda. Ele é cheio de experimentalismos, sobreposição de guitarras, efeitos que soam como referências à psicodelia e elementos de "rap-embolada" que remetem à sonoridade do que viria a ser o "manguebeat" na década de 90.

Mas o que me chama a atenção também no "Psicoacústica" é a coragem e a postura do IRA! de ter enfrentado de peito aberto uma indústria fonográfica e um mercado que não estavam habituados a esse tipo de aventura sonora. Basicamente: a indústria dizia que não vendia (a WEA só prensou o disco porque tinha um contrato com a banda) e o mercado nacional era, realmente, imaturo demais para aceitar um rock que não fosse o "feijão com arroz".

Mas o IRA! simplesmente deu de ombros. Lançou um álbum que falava de crime, de morte, de sangue, que questionava o "bom-mocismo" e as mitologias forjadas para criar "heróis" na sociedade; isso com canções um tanto longas, que fugiam dos padrões comerciais da época, sendo que quase todas passavam da marca dos quatro minutos.

Um disco cheio de energia e que exala, poderosamente, a ousadia quase sempre necessária para quem é artista (e não um mero "entretenedor"). Um disco que, acima de tudo, não se preocupava em agradar a todo custo. Se preocupava, sim, em vislumbrar novos horizontes e novas possibilidades para a música ou, em última instância, para o rock'n'roll. 

Rubro Zorro

Trata-se de um faroeste sobre o terceiro mundo...
O caminho do crime o atrai
Como a tentação de um doce
Era tido como um bom rapaz
Foi quem foi
Ao calar da noite
Anda nessas bandas
Do paraíso é o zorro
Rubro zorro
Espertos rondam o homem
Um tipo comum
Tesouro dos jornais
Sem limite algum
Luz Vermelha foi perdido no cais
Do terror
Um inocente na cela de gás
Sem depor
Luz Vermelha foi perdido no cais
Dos sem nome
Era tido como um bom rapaz
Tal qual o "Golem"[*]
Sou o inimigo público número um
Queira isso ou não
Por ser tão personal
Personal, personal...
O caminho do crime o atrai
Como a tentação de um doce
Foi calado na cela de gás
O bom homem mau
No asfalto quente
O crime é o que arde
Bandidos estão vindo
De toda parte
O caminho do crime o atrai...
É na cabeça...
Seu poder racional...
É na cabeça...
Personal, personal...
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[*] Personagem da mitologia judaica, é um boneco de barro em forma de homem que ganha vida por meio de um ritual mágico. Seu criador deve escrever em sua testa a palavra "emet" (verdade), e ao apagar a primeira letra (da direita para a esquerda, direção em que se escreve no idioma hebraico), forma-se a palavra "met" (morto) e assim o "Golem" é desfeito.
Sem alma e, conseqüentemente, sem vontade própria, é criado para servir, realizando trabalhos pesados ou até pequenas tarefas repetitivas do dia-a-dia, além de defender seu criador de qualquer ameaça.

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