18/08/2013

O corte final, o ponto de partida...

Lembro-me nitidamente do impacto que senti quando ouvi pela primeira vez o “The Final Cut” do Pink Floyd.

Recordo que houve um sentimento de ligação instantânea com as melodias, letras e vocais lamentosos do Roger Waters.

Naquele tempo, eu estava me iniciando nos domínios gélidos do rock progressivo e não conhecia muita coisa da e sobre a banda. Até porque eu vivia (e ainda vivo ao que parece) em uma época sem muito senso de memória e gratidão em relação ao rock progressivo. Afinal, em uma época em que quase toda a música comercial é “fast-food”, quem teria tempo e paciência para ouvir canções de 23 minutos ou álbuns conceituais que se tornam interessantes a partir de uma apreciação do todo?

Digressões a parte, o fato curioso é que, basicamente, eu comecei a conhecer mais profundamente o Pink Floyd ouvindo o que é considerado o último disco da segunda fase da banda (para muitos, o último disco da banda). E, mais especificamente, recordo que a canção que abre o álbum, “The post war dream (o sonho do pós-guerra)”, me causou, de início, um tipo de sentimento que, naquele tempo, só pôde ser traduzido (e mal traduzido) por uma palavra: “Caralho!”.

Aquele prelúdio, com sons sugestivos de um veículo passando em alta velocidade e de um rádio sendo sintonizado, criava toda uma atmosfera diferenciada para mim que desconhecia esse tipo recurso sendo utilizado em canções. Depois disso, começavam os sussurros do Waters com frases aludindo ao fracasso da esperança ocidental num “mundo melhor” alimentada após o desfecho da 2ª Guerra Mundial.

Progressivamente, a canção ia crescendo, até que a bateria entrava numa batida forte e fazia a canção atingir o ápice com o Waters gritando “Should we schout, should we scream/ What happened to the post war dream?” (Deveríamos gritar/ deveríamos fugir/ O que aconteceu com o sonho do pós-guerra?).

A canção fecha com uma questão (in)direta a Margaret Thatcher: “Maggie, o que nós fizemos?”. Lembro de terminar de ouvir a canção, com a sensação indefinida, e logo me  veio também a suspeita de que uma questão de uma canção pode durar muito mais tempo do que o tempo da própria canção...

The Final Cut
01. "The Post War Dream" - 3:02…





















Imagem contida na contracapa do álbum "The Final Cut".

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